sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Cesare Battisti

Itália chama embaixador para consulta sobre Battisti

O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, convocou nesta sexta-feira o embaixador italiano no Brasil, Gherardo La Francesca, para consulta sobre o caso do terrorista italiano Cesare Battisti.

Segundo a agência Ansa, Frattini irá pedir para que seja entregue uma mensagem para a presidente eleita, Dilma Rousseff, que toma posse amanhã.

Segundo o ministro italiano, o seu país irá continuar a tentar a extradição, "além do nosso grande desejo de que a nova presidente possa rever a decisão do seu antecessor e se alinhe à sentença do Supremo Tribunal Federal".

Na linguagem diplomática, a convocação de um embaixador é considerado um ato de protesto.

O Palácio do Planalto anunciou na manhã desta sexta-feira, por meio de nota, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu negar a extradição do terrorista, preso no Brasil há quatro anos.

A nota diz que Lula seguiu parecer da AGU (Advocacia Geral da União), dizendo que a decisão segue todas as cláusulas do tratado de extradição firmado entre Brasil e Itália.

A argumentação jurídica utilizada pelo governo Lula para manter Battisti no país está presente no tratado de extradição, de sete páginas, firmado entre Brasil e Itália no final dos anos 80.

O argumento é semelhante ao usado pelo então ministro da Justiça, Tarso Genro, em janeiro de 2009, quando o governo brasileiro concedeu o refúgio. O ato foi questionado e revertido no final daquele mesmo ano pelo STF.

A Itália vai recorrer da decisão, conforme disse à Folha o advogado Nabor Bulhões, que representa o governo italiano.

"É crime de responsabilidade descumprir leis e decisões judiciais, como fez o presidente", afirmou Bulhões. "Por isso o ato foi praticado no apagar das luzes do governo".

O ministro italiano da Defesa, Ignazio La Russa, disse que "se realizou a pior previsão".

A Itália "não deixará de tentar no plano jurídico e sobre qualquer outro aspecto permitido por lei, para que o Brasil volte atrás nesta decisão, por sorte não definitiva, que, além de ser injusta e gravemente ofensiva para a Itália, é sobretudo para a memória das pessoas assassinadas e para a dor dos familiares de todos aqueles que perderam a vida por responsabilidade do assassino Battisti", afirmou o ministro.

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) rebateu as críticas do governo italiano e disse que o Brasil não teme retaliações.

"O governo brasileiro manifesta sua profunda estranheza com os termos da nota do presidente do Conselho dos Ministros da Itália, em particular com a impertinente referência pessoal ao presidente da República", diz a nota.

Battisti está preso no Brasil há quatro anos por decisão do mesmo Supremo, que acolheu pedido da Itália. Ele foi condenado à prisão perpétua pela Justiça de seu país por quatro homicídios ocorridos entre 1978 e 1979, quando integrava organizações da extrema esquerda. Ele nega os crimes e diz ser perseguido político.

IMIGRANTE

Segundo o governo brasileiro, Battisti fica como imigrante.

Como o STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitou o pedido de refúgio feito pelo então ministro Tarso Genro (Justiça), a decisão do presidente é de não conceder a extradição, ou seja, não entregar Battisti à Itália.

Com isso, o terrorista italiano vira imigrante no Brasil e precisa entrar com o pedido de visto junto ao Ministério do Trabalho.

Como Lula decidiu por sua permanência, a concessão do visto é praticamente automática.

A partir da concessão do visto, Battisti pode solicitar carteira de identidade, de trabalho e passaporte.

Caberá agora ao STF emitir um alvará de soltura de Battisti, preso na Penitenciária da Papuda, em Brasília.

Segundo um interlocutor do governo, não cabe mais ao STF tomar decisões, apenas expedir o documento de libertação.

A decisão do Supremo pode ser monocrática, assinada pelo presidente do órgão, César Peluso, ou de plenário.

Se Peluso optar pela reunião do plenário, a libertação ocorrerá só em fevereiro porque o STF está de recesso. A decisão monocrática pode ser assinada a qualquer momento.

Pela decisão de Lula, Battisti pode sair do Brasil quando quiser para visitar outros países, mas correrá o risco de ser preso em eventual viagem a pedido do governo italiano.




Berlusconi diz que decisão de não extraditar Battisti seria 'inaceitável'

O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, disse nesta quinta-feira que seria inaceitável se o ex-ativista italiano Cesare Battisti não for extraditado pelo Brasil.

A imprensa brasileira informou na quarta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia decidido não extraditar Battisti, condenado à revelia por assassinatos em seu país. O governo ainda não se pronunciou sobre o caso.

O gabinete de Berlusconi destacou em nota que a possível preocupação com a deterioração do bem-estar de Battisti se ele fosse extraditado para a Itália deve ter influenciado a decisão de Lula, que ele pretende declarar como "incompreensível e inaceitável".

"O presidente Lula terá de explicar a decisão, não apenas ao governo italiano, mas a todos os italianos e em particular às famílias das vítimas", acrescentou.

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou no ano passado que Battisti deveria ser extraditado após ser condenado em seu país por assassinatos cometidos na Itália na década de 1970, quando grupos radicais de extrema esquerda promoveram uma campanha de violência.

Mas a decisão final cabe a Lula, que concedeu a Battisti o status de refugiado em 2009 e encerra seu segundo mandato na Presidência em 1o de janeiro. No começo da semana Lula disse que tomaria uma decisão até sexta-feira. Seus assessores afirmaram na quarta-feira que não havia ainda nenhuma decisão formal.

Battisti nega as acusações e diz que está sendo politicamente perseguido na Itália.

Mais cedo na quinta-feira, o ministro italiano da Defesa, Ignazio La Russa, declarou que as relações do país com o Brasil ficariam seriamente abaladas se Battisti não for extraditado.

OUTRAS INICIATIVAS
"Ninguém deveria imaginar que um 'não' à extradição de Cesare Battisti não teria conseqüências", disse La Russa ao diário Corriere della Sera, em entrevista publicada na quinta-feira.

"Eu consideraria isso um grande dano às relações bilaterais."

La Russa, integrante da ala direitista do governista partido Povo da Liberdade, é considerado um ministro próximo de Berlusconi, mas não está claro o quanto suas opiniões refletem a atual política governamental.

"Até onde eu sei, estou pronto para adotar outras iniciativas", ele declarou. La Russa não deu nenhum exemplo concreto, mas disse que estaria preparado para dar apoio a boicotes não especificados contra o Brasil.

No entanto, ele afirmou que um acordo de cooperação militar com o Brasil, prestes a ser aprovado pelo Parlamento italiano em 11 de janeiro, estava muito avançado para ser afetado.

"É tarde para isso. O governo já fez o que tinha de fazer. O resto cabe ao Parlamento", disse ele.

Battisti fugiu de uma prisão italiana em 1981 e viveu muitos anos na França, mas deixou o país quando o governo francês aprovou sua extradição, em 2006. Ele foi preso depois no Brasil.
  

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